Brasileira ganha prêmio internacional com pele que substitui testes em animais
A paranaense Carolina Motter Catarino foi uma das vencedoras do prêmio da marca de cosméticos britânica Lush, que visa estimular pesquisas que diminuam os testes com animais. Seu estudo substitui componentes de origem animal por um modelo criado com amostras de pele humana impresso em 3D. Hoje doutoranda no Instituto Politécnico Rensselaer, em Troy, no estado de Nova York, nos Estados Unidos, Carolina dá continuidade ao estudo, pioneiro na área.
Foi na faculdade de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Federal do Paraná que a pesquisadora brasileira começou a se interessar pelo tema, que ela desenvolveu na França. Em julho de 2011, ainda na graduação, ela estudou durante seis meses na Universidade de Compiègne, no sul do país. “Tive a oportunidade de participar de um programa de intercâmbio que era uma parceria entre universidades brasileiras e francesas”, conta Carolina.
Em seu estágio de seis meses, em 2012, na empresa L’Oréal, ela pôde trabalhar com os modelos de pele em vitro, que é uma alternativa aos testes com animais. “Esses poucos meses de estágio foram suficientes para que eu me apaixonasse por essa linha de pesquisa”, diz. Um estudo divulgado pela organização não-governamental Cruelty Free International mostrou que cerca 115 milhões de animais são utilizados em testes de laboratório no mundo, anualmente.
Voltando ao Brasil, a pesquisadora fez um mestrado na USP (Universidade de São Paulo), onde trabalhou em um modelo de pele humana. O estudo resultou em uma bolsa do programa Ciências Sem Fronteiras para patrocinar seu doutorado nos EUA, que consiste principalmente em imprimir suas descobertas em 3D. “Nos últimos dois anos me dedico a isso: recriar esses novos modelos de pele.”
O equipamento usado para imprimir a pele artificial, que inclui folículo capilar, é uma impressora controlada por um software que, segundo Carolina, vai depositar gotículas de tintas biológicas em posições pré-definidas por um modelo 3D. “Essas tintas biológicas são compostas por uma mistura de proteínas e outros materiais presentes na pele humana, como o colágeno e o ácido hialurônico, e as células que formarão as diferentes camadas e estruturas da pele”, explica a pesquisadora.
Para cada estrutura da pele, existe uma tinta diferente, com composições específicas. Preparadas, elas são adicionadas nos cartuchos das impressoras. O processo demora alguns minutos. Depois da impressão, as peles são mantidas em incubadoras por alguns dias, para que as células se diferenciem e originem o tecido final. “Após cerca de duas semanas, essa pele apresentará uma estrutura semelhante à pele humana, que pode ser usada como uma alternativa aos testes cosméticos, em vez de usar os animais”.
Ela lembra que a pele em 3D traz outra vantagem em relação à animal. “Os animais são fisiologicamente diferentes dos seres humanos. A composição, por exemplo, e as estruturas das camadas de pele, assim como a concentração de folículos capilares, é diferente de espécie para espécie. “Essas e outras diferenças podem gerar resultados que ou não são reproduzidos posteriormente em humanos, ou anteciparem efeitos colaterais”, diz Carolina. A pele criada em laboratório também pode suportar mais testes com substâncias diferentes.
A primeira etapa do projeto, diz Carolina, já foi concluída. A pele criada é similar à utilizada nos protocolos de pesquisa tradicionais, parecida com a humana. Agora ela trabalha em novas composições para aperfeiçoá-la. Em breve, Carolina testará células geradoras do folículo capilar, com a ideia de tornar o modelo impresso cada vez mais complexo, o que possibilitaria realizar mais testes in-vitro sem amostras animais. O projeto do doutorado deve estar concluído em dois anos.
Fonte: RFI
Graças a Deus