Bioporã e a alquimia das castanhas brasileiras
Há alguns anos, o casal Thiago e Lívia decidiram tirar um período sabático para viajar pelo Brasil em busca de vivências e capacitação em três áreas de interesse: yoga, agroflorestas e alimentação. Assim, foram parar numa comunidade alternativa no Sul da Bahia, região de cultivo de cacau.
Hoje, após quase cinco anos do lançamento da marca de manteigas veganas artesanais Bioporã, sem nada de origem animal, inauguraram um novo espaço, na Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
As manteigas não possuem glúten, soja, lactose ou aditivos artificiais. Hoje, além delas, a marca conta com uma variedade de produtos e com projetos como o de Reciclagem Total e de Compras Coletivas. A seguir, o sócio-guardião Thiago, nos conta um pouco da empresa, do conceito da marca e sua visão do Veganismo com coerência e sem rótulos. Leia a seguir:
VegNutri: Como se iniciou a marca Bioporã?
Bioporã: Na época, Lívia e eu estávamos há cinco anos juntos e resolvemos tirar dois anos para viajar pelo Brasil em busca de vivências e capacitação em três áreas que temos interesse até hoje: yoga, agroflorestas e, claro, alimentação. Fomos parar numa comunidade alternativa no Sul da Bahia, região cacaueira. Um amigo que fizemos lá tinha um moinho de pedra portátil para fazer chocolate. Lívia pediu o equipamento emprestado um dia para fazer umas experiências com castanhas e levar na feirinha local. Em duas semanas, já tinha lista de espera para entrar na lista de pedidos! Foi aí que identificamos a oportunidade para empreender.
VegNutri: Quem são os idealizadores, o que é um sócio – guardião e por qual motivo optaram por esse segmento?
Bioporã: Lívia e eu nos consideramos sócio-guardiões da Bioporã. Temos uma filha juntos e enxergamos a empresa como uma segunda filha. O termo “guardião” tem a ver com o fato de encararmos a empresa como um filho que nasce e vai se desenvolvendo com aptidões e necessidades particulares. Como guardiões, fazemos o que consideramos o melhor, sem nos enxergarmos como donos da empresa. Como acontece com nossos filhos: somos os responsáveis por eles, mas não seus donos. E um dia, filhos e empresas bem-sucedidos acabam tomando a responsabilidade por seus destinos com as próprias mãos.
Com relação à opção pelo segmento, na verdade, e com muita alegria e humildade, nos consideramos pioneiros das vegan nut butters no Brasil. Pode procurar: não tinha nada igual até dezembro de 2013, mês do nosso lançamento. A primeira manteiga de coco do País é da Bioporã! Hoje não dá para contar nos dedos as marcas que a produzem – claro, com outra qualidade! Este pioneirismo, apesar de em si não pagar as contas, é motivo de muito orgulho para nós!
VegNutri: Os sócios são veganos? Os produtos são veganos?
Bioporã: Para mim, rótulos mais confundem do que nos ajudam a sermos quem de fato somos. Posso afirmar que já vesti muitos rótulos nos últimos quinze anos, quando saí de uma alimentação convencional e vivi de maneira radical vários “ismos”. E o problema de ser “isso” é que você não pode ser “aquilo”, e nessa dinâmica acaba rolando muita culpa e frustração caso você pule a cerca do rótulo.
Além do mais, sinto que o próprio entendimento comum do veganismo ainda está muito superficial. Posso tomar Coca-Cola e comer coxinha de jaca frita em óleo de soja todos os dias e ser um vegano exemplar. Percebe uma falta de sentido? Outra: não existe uma só construção, uma só casa ou estrada, um só veículo, uma só gota de combustível de origem fóssil ou quilowatt em nossa história que não tenha implicado em supressão da biodiversidade animal. Então, quando vem está questão de ser ou não vegano, sinto sempre a necessidade de ampliar mais a questão, pois é muito mais do que comer ou não animais.
Então, se eu respondo que não como carne, sinto que, além de não dar a resposta completa, estou contribuindo para fortalecer um entendimento superficial do veganismo, que é, para mim, um baita conceito, uma ferramenta de tomada de consciência, de transformação profunda, mas que deve ser ampliado para além do que comemos, incluir uma ideia de saúde individual e também planetária, uma ideia de sustentabilidade a longo prazo.
Neste sentido, batizamos nossa linha de cremes de castanhas com o nome de manteigas veganas artesanais não apenas porque elas são 100% isentas de ingredientes animais, mas também porque se propõem a trazer esta reconexão com o alimento, com a forma como ele é feito, com os passivos e ativos ambientais que sua produção implica. Por mais óbvio que pareça, é um conceito difícil de ser comunicado, de se fazer entendido. Mas é o que procuramos fazer todos os dias por aqui.
VegNutri: Como vocês percebem o consumo pelo público vegano dos produtos Bioporã?
Bioporã: É fato que o mercado de produtos e consumidores veganos está crescendo. Mas, como disse na questão anterior, não se trata necessariamente de um crescimento que se reflete na qualidade dos produtos oferecidos e dos próprios consumidores.
A grande indústria segue acreditando que pode continuar utilizando toda sorte de aditivos artificiais ou ingredientes vegetais que geram enormes passivos ambientais em sua cadeia produtiva, como a soja, e ainda sim rotular um produto como vegano.
Ao mesmo tempo, os novos consumidores deste segmento parecem simplesmente associar o conceito à uma qualidade superior, premium do produto, inclusive taxando-o de caro e elitista. Também vejo isto como uma distorção.
Justíssimo também lembrar que vivemos uma época onde alergias alimentares se tornaram uma pandemia e há muito clientes que nos procuram a partir de uma necessidade imediata de transição alimentar.
Enfim, acreditamos que nosso público já é um segmento dentro do público que consome produtos veganos. É um grupo de consumidores muito especiais que conhecem nosso processo produtivo – que, em alguns produtos, pode levar até oito horas para se atingir o ponto ideal – e nossa visão de mundo (que contempla tudo o que falamos até aqui) e valorizam tudo isso.
VegNutri: Podem nos explicar o Projeto Reciclagem total?
Bioporã: Em 2017, iniciamos uma parceria comercial com uma empresa que faz o meio de campo entre indústria, coletores e recicladores. Basicamente, informamos a este parceiro o peso total e o tipo das embalagens que colocamos no mercado em determinado período e eles contratam e garantem a reciclagem de um volume equivalente deste material.
Para exemplificar, em 2016 colocamos no mercado algo em torno de 8 toneladas de vidro. Não dispomos de logística reversa, o que na nossa escala inviabilizaria nosso negócio, então não temos o controle sobre o destino de nossas embalagens. Mas reciclamos o volume exato equivalente à elas. É o mínimo que podemos fazer, mesmo que isso aumente nossos custos de operação.
VegNutri: Vocês valorizam as compras coletivas. Como elas funcionam?
Bioporã: Sim! Compras coletivas significam diminuição de custos para quem compra e também para quem vende. Além do mais, é uma forma super colaborativa de nos organizarmos socialmente.
Seu funcionamento é simples: oferecemos condições diferenciadas para pedidos coletivos, que podem ser descontos, frete grátis ou até ambos os benefícios, dependendo do valor da compra. Os clientes, geralmente familiares ou amigos, contam com uma pessoa que centraliza a compra, responsável pela organização do pedido de cada pessoa, por efetuar a compra com a gente e receber o pedido. Mas, na verdade, as pessoas podem se organizar de inúmeras maneiras e distribuir as responsabilidades pelo pedido ao seu gosto.
É uma modalidade que ainda precisa virar hábito para a maioria de nós. Mas significa vínculo social e economia. Por aqui, a gente compra arroz, leites vegetais, kombuchá, e até sal de Mossoró coletivamente. É divertido, nos une ainda mais aos nossos amigos e chegamos a economizar até 40% com produtos e frete, o que não é pouco.
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