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Crianças que escolhem ser vegetarianas

A pesquisa da doutoranda da Harvard Graduate School of Education, Karen Hussar observa crianças de 6 a 10 anos que se tornaram vegetarianas. Na maioria dos casos que Hussar estudou, a decisão da criança tem mais a ver com moral do que com uma escolha pessoal. Isso é contrário à teorias de psicólogos famosos como Lawrence Kohlberg e Jean Piaget – ambos pioneiros no desenvolvimento moral – de que as crianças não são capazes de tomar decisões morais por si só na infância.

Alejandra Tumble, de 10 anos, não come carne e realmente não gosta de presunto. Mas os seus motivos para isso podem surpreender. Ela é capaz de falar durante horas sobre sua escolha de não comer carne e como lhe parece estranho que um porco possa ser processado e transformado em uma fatia fina de carne cor-de-rosa. Ela acha que isso está errado, não para todo mundo, mas pelo menos para ela.

“É emocionante ver como essas crianças são relativamente autônomas e independentes”, diz o professor Thomas Paul Harris, que orientou Hussar ao longo da pesquisa.

“Isso significa que as crianças estão sendo influenciadas por outras crianças e indo contra a maré em suas próprias casas, que são casas onde se come carne. Nós não sabemos muito sobre como as crianças tomam decisões morais com tão pouca idade. Eu acho isso uma boa iniciativa”, acrescenta.

Hussar, que começou seu estudo sobre vegetarianos por recomendação de Harris, diz que o comportamento das crianças vegetarianas é o material perfeito para se pesquisar sobre desenvolvimento moral.

“Quando você conversa com crianças sobre bullying ou provocação, todos sabem as respostas certas e podem dizer o que está errado”, diz Hussar, destacando que “no entanto, o melhor sobre essas crianças (vegetarianas) é que eles não têm as respostas prescritas em suas cabeças. Então, você percebe que está recebendo respostas legítimas sobre moralidade”.

Métodos de questionamento – A pesquisa de Hussar analisou um total de 45 crianças, algumas vegetarianas em casas onde se come carne, algumas vegetarianas em lares vegetarianos e algumas não-vegetarianas e questionaram suas decisões de comer ou não comer carne por meio de anotações. Para avaliar como essas crianças tomaram suas decisões, Hussar estabeleceu métodos de questionamento que forneceu quatro histórias diferentes para as crianças com abordagens moral, pessoal, social e relacionada à ingestão de carne.

Então, Hussar comparou as respostas para determinar como seus julgamentos diferiam. Através dessas entrevistas, ela descobriu que muitas crianças fizeram a escolha com base em razões morais. “Suas respostas foram mais sobre como os animais são seus amigos“, explica Hussar.

“Eles poderiam ter usado razões pessoais como ‘eu me sinto mais saudável’ ou usar motivos do tipo ‘o gosto é ruim, é realmente nojento¨, afirma.

Em um dos primeiros estudos, as crianças vegetarianas viviam em lares onde se comia carne e haviam tomado sua própria decisão sobre o assunto de forma completamente separada de suas famílias. A pesquisa revelou que as crianças não vegetarianas julgaram aquelas que tomaram a decisão de se abster de comer carne por razões morais com mais severidade do que julgaram aquelas que decidiram isso por motivos pessoais.

Razões morais – O que Hussar achou ainda mais interessante foi descobrir que todas as crianças vegetarianas revelaram razões morais para não comer carne, tais como “não gosto da ideia de matar animais” ou “eu adoro animais e eu não gostaria de comê-los… Eu só quero ser legal com eles“. As crianças não vegetarianas (na pesquisa) não reconheciam esse incentivo moral.

Mais surpreendente foi que as crianças vegetarianas não fizeram julgamento daquelas que escolheram comer carne. “Para aquelas que vêm de famílias onde são a única exceção ao hábito carnívoro, pode ser difícil julgar as pessoas com quem vivem porque elas são seus modelos”, diz Hussar.

Na verdade, as crianças vegetarianas tinham o pé atrás mais com aquelas outras crianças que uma vez se comprometeram a não comer carne por razões morais e depois quebraram esse compromisso.

Hussar admite que muitas crianças podem reconhecer o valor moral de não comer carne, mas não fazer a escolha de se tornarem vegetarianas. Ela está ansiosa para continuar pesquisando e poder descobrir por que certas crianças param de comer carne enquanto outras não.

“As crianças não-vegetarianas não se dão conta e pensam que escolher não comer carne é incomum”, diz Hussar. “Eu acho que (sua escolha de continuar comendo carne) tem a ver com seguir a maioria. Eu não acho que seja um caso de não reconhecerem o valor moral, mas sim de isso não ser o bastante para transformá-los em vegetarianos”, finaliza.

Fonte: Mandala

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