Empresa quer primeira fazenda de polvos do mundo
Uma empresa espanhola está construindo a primeira fazenda comercial de polvos do mundo, fruto de um investimento de algumas dezenas de milhões de dólares. A Nueva Pescanova desenvolve pesquisas há cinco anos na região da Galícia, noroeste da Espanha. Segundo o diretor de aquicultura da empresa, Roberto Romero Pérez, os cientistas já chegaram à quinta geração de polvos nascidos em suas piscinas artificiais.
A fazenda de polvos ainda não recebeu autorização da União Europeia para operar, mas mesmo assim, tem sido alvo de críticas dos pontos de vista éticos e ambientais.
O empreendimento pretende fornecer, até 2030, 1% de todo o polvo extraído da natureza para uso humano. Atualmente, o mundo consome entre 300 e 400 mil toneladas por ano do invertebrado. Todo o animal pescado hoje é de origem selvagem.
O objetivo é domesticar a espécie e transformar a relação dos humanos com esses cefalópodes. Há milhares de anos, foi esse processo que garantiu o cultivo de gado e de porcos, por exemplo, mas é justamente isso que tem gerado revolta em defensores da causa animal.
Uma equipe de especialistas examinou mais de 300 estudos e concluiu que havia “fortes evidências científicas” de que esses invertebrados podiam sentir prazer, excitação e alegria, além de dor e angústia.
Há um convencimento geral de que “a criação de polvos em condição de alto bem-estar era impossível”. Assim, há uma pressão para que o comércio de polvos criados em cativeiro não se torne um mercado.
Ativistas, que fizeram manifestações contrárias nas Canárias, denunciaram que a empresa pretende criar entre 10 e 15 polvos por metro cúbico, o que Pérez confirmou à Folha de S.Paulo. Além disso, há uma forte objeção contra a maneira como o abate será conduzido: os animais serão colocados em tanques de água com temperaturas perto de 0ºC.
Inteligência
A elevada inteligência desses animais fez com que o Reino Unido os declarasse como legalmente sencientes. Mas, na contramão disso, a crescente pesca desses animais fez com que sua caça fosse declarada como o setor de produção de alimentos mais crescente do mundo.
Experiências anteriores mostraram que os polvos não são animais criados facilmente em cativeiro, por apresentarem muita agressividade, automutilação e canibalismo.
Segundo o diretor de esforços de conservação da pesca da World Wildlife Foundation, da Espanha, Raul Garcia, os polvos são animais extremamente inteligentes. Além disso, é sabido que eles não são felizes em condições de cativeiro.
Ambientalistas não acreditam nas fazendas
Por outro lado, pesquisadores do setor ambiental alertam que a criação dos animais em cativeiro não aliviaria em nada a pressão sobre os animais aquáticos selvagens. Além disso, iniciativas desse tipo só têm o objetivo de melhorar a segurança alimentar global, sem levar em conta o bem-estar animal.
Alguns ativistas, inclusive, dizem que o ideal é parar de comprar e comer polvos. Porém, no momento, a maior esperança desses setores é fazer com que a União Europeia rejeite as licenças necessárias para que a fazenda de polvos espanhola entre em operação.
Fontes: RevistaForum e Olhardigital
Imagem: BBC